Vivendo o Inverno
Como este livro me ajudou neste inverno! Posso agradecer a Katherine May a companhia que senti, ao longo do frio da estação mais “deprimente” do ano. Adoro o inverno, mas este livro fez com que aprendesse a vivê-lo. Porque gosto do inverno? Adoro o silencio que se faz sentir na natureza, ao silencio das pessoas, que se recolhem mais em suas casas e sentem o peso do pensamento acolhe-las sem dó, sem piedade.
Ao fim da tarde, enquanto o sol se aconchega no céu, tapando-se com o seu manto violeta, de leves tons dourados, sedoso e quase fresco, o momento é propicio à leitura, com lareira acesa, um copo de vinho e um quadradinho de chocolate. Enquanto os gatos se enrolam no cesto, coberto com uma fofa almofada e uma mantinha polar, o silencio, apenas cortado pelo crepitar do fogo, que emitindo um estalar, de quando em vez, nos conta, a pobre sorte de algum bichinho, que tranquilamente dorme na sua cova hibernal, que acaba de ser estorricado como uma picoca, que saltando para fora ninho, um dos gatos vai despertar, o pobre coitado do inseto, esturricado pelas chamas ardentes, nem sequer chega a saber, que passou para o mundo dos mortos e que nalguma outra forma, continua a viver. Pobrezinho.
O tempo passa a ser lento, esta lentidão que nos envolve a todos, chega em forma de descontentamento, saudoso, por dias mais quentes e felizes. Eu, diria que, sou caprichosa no que diz respeito ao tempo, gosto particularmente do frio e do vento, da chuva e do belo nevoeiro que se aproxima sem sussurro aparente. Gosto da neblina e da sensação descontente do luar estrelado, que com o brilho da noite invernal, me faz sentir contente. De bochechas rosadas e lábios aquecidos pela bebida quente, observo sem pressa, o azul escuro do céu, pensado: o que haverá entre as estrelas e planetas? Parece que uma linha, que nos é invisível, liga os pontinhos de luz que avistamos daqui de baixo. Ou será que estamos em cima? Por cima de alguma coisa estaremos com certeza, por baixo das estrelas também, mas, o que existe entre elas? Será que, se me aproximar mais um pouco, pondo-me em pontas, será que parece que elas me caiem em cima? Ups! Deixo sempre cair um pouco de chá, quando me ponho em bicos dos pés, talvez perca o balanço um pouco, talvez me esqueça que o carrego nas mãos, talvez… queira voar! Sonho que voo, sonho que as nuvens me tocam, sonho que as atravesso e descubro o infinito que existe entre as estrelas, depois, lembro-me do mar! Ele chama por mim, depressa, retorno ao meu lugar, ao ponto onde estava, que é o meu. O mar não nos deixa partir, ele quer-nos de volta, sempre que pode, nos puxa para perto, fica triste quando nos vê ir embora. Eu digo-lhe: Volto em breve, querido mar! E com um sussurro, sopro que o adoro, fechando os olhos, para lhe sentir o cheiro e ouvir o seu lamento, nas ondas que me puxam para perto. Sou mar, nada nos separa, onde eu estiver, ele sou eu, por isso, ele estará.
Sou mar.
Vejo um barco ao longe! É um navio! Desaparece de-va-gar. Parece que está parado e de repente, desaparece. Vejo uma luz! Ali ao longe! É um farol! Olha, ali! Está mais perto, espera, espera, já não está… sinto os pés na areia, toco com a língua nos lábios, saboreio o sal, fecho os olhos, inspiro, expiro e abro os olhos, para te ver, ó mar!
No inverno, as ondas são de branco mais intenso, o mar fica cinzento, com pouco azul, as cores misturam-se, e, até de verde por vezes se veste.
O verde é uma das minhas cores preferidas, por vezes, visto-me toda de verde, gosto. Também adoro cor de rosa e desejo pintar as paredes neste tom. Gosto de azul marinho, porque me lembra o mar, a Marinha, o Museu de Marinha, o Aquário Vasco da Gama, o Palácio da Ajuda, Belém, o meu primeiro lar.
No inverno, a casa fica fria, mas sabe bem. As mantas que ponho em cima, são três, três mantas quentes, uma azul, uma aos quadrados bordeaux e brancos, uma castanha com dois cavalos desenhados no padrão. Gosto de me enrolar nelas como se fossem um saco de cama. Tenho três almofadas na cama, uma uso para deitar a cabeça, outra para encostar às costas, outra ponho do outro lado, para quando rolar, noutra direcção, ter uma almofada para me aconchegar as costas e não me deixar sentir desamparada, neste leito em que me deito, sentido conforto e segurança. Cada vez mais, o conforto se torna importante nos meus dias, já não quero passar sem ele.
Wintering ou Invernado foi um livro que me fez sentir, que não estamos sozinhos nos momentos difíceis da vida, quando digo que não estamos sozinhos, não significa que tenhamos alguém ao nosso lado, por vezes não temos. Mas, refiro-me a alguém, que algures nesta vastidão de espaço, passa pela sensação de frio ao mesmo tempo que nós, por vezes, sentindo-se um pouco perdido neste universo, em que apenas somos um pontinho quase insignificante, mas que nessa insignificância, fazemos parte de todo um equilíbrio, que se mantém pleno e em movimento, porque nós estamos exatamente, onde temos que estar.
De alguma forma, o meu mundo toca o teu, nem que seja ao de leve.
Até breve!
Maria.
P.S. - esqueci-me de partilhar a música que estive a ouvir, enquanto te escrevia. Aqui fica :) Winter____. frozen in gentle silence